“Angola defende o princípio ‘Uma só China’ e Taiwan como parte integrante do território chinês”, afirmou o chefe de Estado angolano (não nominalmente eleito), general João Lourenço, durante um encontro com Xi Jinping, no Grande Palácio do Povo, junto à Praça Tiananmen, no centro de Pequim, onde centenas, ou até milhares, de jovens foram assassinados pelo exército chinês.
Nos dias 3 e 4 de Junho de 1989, ocorreu uma violenta repressão contra um movimento democrático estudantil na Praça da Paz Celestial (“Tiananmen”), no centro de Pequim. Cerca de 5 mil pessoas manifestavam-se contra o governo do Partido Comunista por ser demasiado repressivo e corrupto, e contra a inflação e o desemprego.
O exército chinês disparou indiscriminadamente contra a multidão que ocupava a praça e ruas próximas. A repressão estendeu-se a outras partes da cidade e continuou nos dias seguintes. As estimativas das mortes variam: entre 400 a 800 (segundo o The New York Times) até 2.600 mortos (Cruz Vermelha chinesa) além de cerca de 7.000 feridos.
Nos primeiros dias de Junho de 1989, milhares de pessoas, a maioria estudantes, reuniram-se na Praça da Paz Celestial, em Pequim. O movimento estudantil foi inspirado no processo de abertura da União Soviética introduzido, em 1986, por Mikhail Gorbachev por meio da “perestroika” (reconstrução), programa de abertura económica incluindo a liberalização do comércio exterior, e da “glasnot” (transparência), programa de abertura política que deu novas liberdades, sobretudo de expressão.
As mudanças ocorridas na União Soviética influenciaram outros países do bloco comunista como a Polónia e a Hungria. A visita de Mikhail Gorbachev à China em Maio de 1989 fortaleceu a esperança de intelectuais e estudantes chineses de que o país seguiria no mesmo sentido de liberalização política e económica.
O líder soviético chegou à China em plena onda de protestos estudantis que, desde 15 de Abril, ocorriam quase diariamente em Pequim e que recebeu, inclusive, apoio de trabalhadores. O movimento consistia em marchas pacíficas nas ruas da capital pedindo reformas políticas, liberdade de expressão e um diálogo com os governantes da República Popular da China.
Os estudantes cantavam “A Internacional” (hino comunista) mostrando, assim, que permaneciam aliados ao socialismo chinês. Em 17 de Maio, os líderes chineses foram forçados a cancelar a visita de Gorbachev à Cidade Proibida. Humilhação para o governo chinês. Dois dias depois, o secretário-geral do PCC, Zhao Ziyang, foi à praça e tentou dissuadir os estudantes de continuarem a manifestação e a greve de fome que tinham, então iniciado. Zhao Ziyang não teve sucesso e ainda caiu em desgraça: foi demitido e colocado em prisão domiciliar em Zhongnanhai, o local de residência dos líderes chineses nos limites da Cidade Proibida, impedido de qualquer contacto com o mundo exterior.
No dia 20 de Maio, Deng Xiaoping, presidente da comissão de assuntos militares do PCC (com 85 anos), convenceu o primeiro-ministro Li Peng a instituir a lei marcial. Este convoca o exército para limpar a praça e soldados e tanques são tomam conta das ruas. A multidão, porém, era tamanha que as entradas da praça estavam bloqueadas. Os manifestantes, inclusive, tinham erguido barricadas para impedir ou dificultar a passagem dos tanques.
Na noite de 3 de Junho, tanques e camiões blindados transportando soldados armados foram atacados com pedras e dispararam contra a multidão. O confronto vitimou civis e soldados que foram mortos em linchamento ou por coquetéis Molotov e outras armas improvisadas. Por volta das 12 horas do dia 4 de Junho, os primeiros soldados chegaram à Praça Tiananmen que, então, estava ocupada por apenas uns 5.000 estudantes.
Novos confrontos ocorreram estendendo-se até à madrugada do dia seguinte. Entre os manifestantes, Hou Dejian, um músico popular da China, assumiu uma posição de liderança e negociou com o comandante das tropas uma retirada pacífica. Os manifestantes deveriam deixar a praça até às 7 horas da manhã. Quem permanecesse seria fuzilado pelos militares. A violência na cidade continuou em 5 de Junho, embora a resistência já estivesse quebrada.
Armas de fogo foram usadas em vários confrontos entre os militares e a multidão. Quando os tanques se afastavam da praça, um homem carregando duas sacolas atravessou a avenida obrigando os tanques a pararem. A imagem foi filmada e tornou-se um ícone dos protestos.
Até hoje, não se sabe quem é esse homem. Muitos esforços foram feitos para identificá-lo, sem sucesso. Houve quem identificasse como Wang Weilin, um estudante de 19 anos de idade. Outros asseguram que o homem foi executado 14 dias depois da revolta, por um pelotão de fuzilamento.
O autor da foto, Charlie Cole recebeu, por esse trabalho, o World Press Photo Award, em 1989.
Sufocados os protestos, seguiu-se uma onda de repressão do governo. Foram anunciadas 49 execuções: eram principalmente trabalhadores e intelectuais, mas não estudantes. Estes foram condenados a anos de prisão. Libertados depois de cumprida a pena, foi-lhes negado trabalho qualificado uma vez que haviam sido registados como participantes nos protestos. Centenas de manifestantes conseguiram sair do país com ajuda de diplomatas ocidentais que lhes ofereceram asilo político, especialmente a França.
O governo chinês silenciou os acontecimentos e impôs uma severa censura aos meios de comunicação e à Internet, especialmente às redes sociais. Por outro lado, o forte crescimento económico da China a partir de 1990 ajudou a branquear o crime. Zhao Ziyang, o líder chinês que tentou convencer os estudantes a pararem os protestos, viveu em isolamento até à sua morte. Apenas 20 pessoas foram autorizadas a assistir à cerimónia fúnebre. O seu túmulo é guardado dia e noite por homens armados e as visitas são proibidas.
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